O óbito

É certo que cada cultura tem sua característica, mas tem determinadas nuances que para quem não está acostumado chega a ser engraçado, pois bem, o vizinho do primeiro andar do prédio em que estou morando, morreu no dia seguinte a minha chegada. Era um cara jovem, e a mãe quando soube entrou em desespero... como era de se esperar.

Com a morte, vieram as cerimônias e ai entra a parte "interessante" da história.

Eu já sabia que óbito neste país é coisa muuuuito séria, inclusive por lei os trabalhadores tem direito a dias de dispensa para que possa velar o morto. DIAS, porque aqui velório dura dias... e isso não está restrito a pais e cônjuges... é estensível a tios, primos e afins que tinham relação próxima com o defunto.

Não entrei na casa da vizinha, mas o corpo estava lá, velório se faz em casa, mas como a casa é pequena e não comportava todos que vinham, colocaram uma foto do garoto com uma vela ao lado na porta do prédio.... Ele morreu na terça a noite, na quarta de manhã quando saí para o trabalho vi a mesa montada com a foto.

Quando voltei na hora do almoço já havia um grupo.... e só aumentou a população...
A noite eles cantaram, não deu para entender exatamente o que eles cantaram, mas era bonito. Eles cantaram por horas...

Quinta de manhã quando fui ao trabalho parte da população já havia se dispersado, mas quando voltamos, tinha tanta gente que preferimos entrar pela garagem que dá acesso a uma rua lateral... uma rota de fulga.... mas a essa altura nem era uma passagem assim tãooooo livre pq a população já se espalhava pelas escadas do edifício (o prédio não tem elevador). "Dá licença, dá licença, dá licença" e chegamos em casa... Neste dia não houve cantoria, teve é festa, o pessoal bebendo e conversando até "sei lá que horas"...

Na sexta a situação era a mesma, mas só que com mais gente ainda.... e começaram a preparar as comidas para o almoço do sábado... Várias senhoras gordas se espalharam pela área interna do prédio, limpando peixe e separando os grãos.... no meio de milhares de moscas. Uma cena.

Sábado de manhã foi o enterro.... o cortejo acompanhou o corpo. Eu estava dormindo, mas acordei com o choro desesperado das pessoas, não levantei para ver, o sono era beeeeemmmm maior que a curiosidade. Mas pela tradição depois do enterro tem o almoço regado a muita bebida e uma comidarada danada.... bom, nem é preciso dizer que a população no sábado era muito maior do que qualquer outro dia, não é?!

Agora os "festejos" pararam, mas perguntei a um angolano do escritório e ele me explicou que 7 dia após o enterro rola uma nova movimentação.... vamos ver, será no próximo sábado.



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